Só Neste Porto Só

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a luz pousava sobre a cidade
ruas desnudas asfaltos descalços
portas seladas
cadeiras
mesas empilhadas à espera de um novo dia incerto
futuro sem aviso

jardins quietos inquietos
em verdes indeléveis
varandas nuas
sombras raios de sol em cada chão pedaços de nós em tonalidades cinzentas

baladas tristes

sentia
o assombro do que nos assombrava sentia a melancolia
esperança tímida
compasso de espera sem tempo

sentia
estranhamente
sentia vida pungente
entre janelas varandas portas a gritar por salvamento

de quando em vez me agarravam no olhar rostos vagabundos com
pressa do amanhã
receio do invisível

saudade do futuro
a magnitude do humano
na profundidade do caminhar

neste porto só
mora a alma da humanidade intensa
sublime estado de sentir este que alimenta espaços vazios nos absorve enquanto Vida pela Vida

assim está o meu porto só
eu envolta em solitude que me estilhaça o coração

o céu está mais azul

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Clara Ramalhão

Depois do 16 de Março de 2020 — Covid19