"Viagem na minha
vida a Xipamanine"
"De ti me escondo para te ver"
"De olhos bem abertos para o mundo, nos meus verdes anos falo com o olhar"
"A mansidão vive em mim à espera de minha mãe para beijar"
"À minha volta pode ser tudo desalinho escuro e sujo, ainda assim existe a beleza de uma vivência digna."
"A terra é o meu sustento mas a estrelas guiam-me"
"Sou curioso e temeroso de tudo que está para além do corpo de minha mãe onde sempre estou, feito de amor, desalento e incertezas no futuro, que sou eu"
"Um escultor trabalharia na pedra beleza do seio, em África é sentença de vida"
"Cedo sou mãe, esta é a minha cultura que transpiro por todos os poros."
"A sabedoria vive em mim, envelheci a aprender com as coisas simples da vida, por isso o meu olhar é sobranceiro à terra, pois estou a caminho do céu."
"A alegria é como um rio corre sempre em mim."
"Olha para mim sou como os pássaros, madrugo e canto. Leva-me contigo, voemos juntas"
"Esta força que te confunde vem-me da terra"
De tudo eu senti e vi, envolta de uma palete humana de um fascínio tal, que me levou sem bloqueios de pensamento mas na fluência do que o meu coração sentia, à magia daquele lugar...estava no mercado de Xipamanine, sob um calor que aquecia a minha pele, percebia África, naquilo que passa pelo movimento sob esfera terra e povo, que se mistura com os raios intensos que emanam de expressões magnanimes, seja qual for a idade, porque não há idade, nem tempo, mas vida.
De cada alma em formato de rosto ou gesto, emerge a força da terra.
Na condição de gente que sou, e apenas gente, sem cor, sem terra, mas em abraço com o mundo, permitam a partilha destes momentos de emoção pela imagem, fazendo transparecer, que na maior amalgama de gentes e poeira, se descobre beleza...é só mergulhamos o nosso olhar no que vemos, e ir mais fundo, sem limites de coisa nenhuma.
Clara Ramalhão